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sábado, 21 de julho de 2012

Quem é dono da verdade?



“O juízo de valor que elaboramos determinam nossa ações, e sobre sua realidade descansa nossa saúde mental e nossa felicidade”, Erick Fromm.


Quem disser que é dono da verdade ou foi enganado por um vendedor de boa lábia ou está mentindo. Provavelmente a segunda opção seja a mais provável. Uma verdade pronta e acabada é a negação da aprendizagem. Portanto, os pais e educadores não devem ir contra as ideias dos alunos, mesmo que essas pareçam, em primeira instância, incoerentes. O papel do professor, além de ser um agente de transformação, é, antes de tudo, de compreensão. Sem esse conhecimento, ele pode causar o desinteresse no aprendizado dos discentes e daí para frente criar um sujeito sem predicados.
Muitos leitores me perguntaram com referência ao artigo “Sobre a psicanálise na escola”, o que fazer, de acordo com o novo ambiente hostil, principalmente nas periferias e unidades públicas de ensino. Não há receita pronta e acabada. O que podemos é refletir junto essa questão. A escola tem que aprender a superar seus problemas sem distinção de poder. Corpo discente e docente tem que respeitar o processo de descobertas de suas “verdades”. Não dar respostas prontas. Fazer pensar é um ato de libertação. Um aprende com o outro.
Para as crianças e adolescentes a rebeldia, vandalismo, ou até a violência com objetivo de se impor num determinado grupo é uma forma de “liberdade”. Talvez da opressão em sua vida extraclasse. Quando esse indivíduo, que já é oprimido chega à escola desconta nos colegas e é novamente “violentado” com palavras pelo próprio educador. Este, o vândalo, sofre duas vezes, e pior, as palavras doem mais do que bofetadas.    
Friedrich Nietzsche, em 'Para Além de Bem e Mal' diz que “há, na verdade, qualquer coisa rebelde a toda a instrução, um granito de fatum espiritual, de decisões predestinadas e de resposta a perguntas escolhidas e pré-formuladas”.
A maior rebeldia que se pode esperar de um aluno é a falsidade. Ou o “bom moço (a)”. Aquele que fica quieto, sem participação. Que passa quase despercebido. Esse é preocupante. Qual será a realidade dele? Em que mundo ele está? Na sala de aula que não é.
Quem pode explicar a dor e o sofrimento? Cada aluno é um ser singular com seus próprios dilemas. Não adianta executar um “castigo” coletivo. Isso, talvez, só serviria para corrigir um dentre tantos outros que têm inúmeros problemas no âmbito social, econômico, cultural diferente dos demais. Também o professor tem suas neuroses. Até mais angustiantes do que a de uma turma inteira. Então o que fazer?
É preciso ter o desejo de libertação. Livrar-se da alienação. O medo da consciência crítica sobre a realidade de si e da sociedade provoca essa prisão e, consequentemente, surgem os escapismos. É mais cômodo tomar medicamentos, abusar de drogas, e deixar a situação como está do que enfrentá-la superando assim o sofrimento emocional.
Há uma falsa interpretação da realidade comumente disseminada no meio acadêmico. “A minha realidade não pode ser mudada”. A dialética subjetiva do educador busca o domínio de suas emoções, que o boicotam, oprimem e alienam o seu Ser. Quando ele critica a violência, sem embasamento ou conhecimento da singularidade dos afetados diretamente com a agressão física, ele, o professor, pratica contra si a violência psicológica.  
O sofrimento do ensino público vem de longa data. A desumanização e a negligência das autoridades públicas provocam outra questão que está inserida no contexto político educacional: como humanizar-se numa sociedade violenta e corrupta? A resposta é estar consciente da busca pela justiça, mesmo que pareça uma utopia.
Voltando aos alunos, a valorização da subjetividade é a chave. A imaginação facilita o processo de humanização. De tornar uma situação dolorosa mais tranquila, por meio de uma brincadeira, de uma piada. Claro, sem esquecer a realidade, a objetividade. Essas que são as duas realidades no ambiente escolar (subjetiva e objetiva).
Os conteúdos concretos também podem ajudar a compreender o seu dilema pessoal, mas, a vocação do ser humano é, sem dúvida, subjetiva. Ela está voltada para o diálogo, esperança, humildade, simpatia e para o amor. Na minha humilde opinião.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Sobre a psicanálise na escola


 

“Quando o sujeito depara com a fantasia que sustenta sua neurose, é como se dissesse: ‘Nossa, era só isso? Eu estava sofrendo há tanto tempo só por causa disso?’, Maria Rita Kehl. 

por Roney Moraes

Inserir a Psicanálise na educação é uma questão que já deveria ser debatida pelos gestores há muito tempo. Num momento conturbado, em que os valores são invertidos (alunos com total descontrole sobre as ordens dos educadores) e professores cada vez mais com medo de algumas ameaças juvenis e paternas, nesse contexto a teoria psicanalítica pode ajudar a melhorar o ambiente educacional.
Sabemos que a liberdade sexual está cada vez mais presente nos jovens. Freud já defendia que as crianças devem receber uma educação sexual assim que demonstrar um interesse sobre tal assunto. Mas, o terapeuta disse que a psicanálise não pode fazer o papel da educação e não pode ser considerada salvação para todos os problemas educacionais, mas pode auxiliar em um maior conhecimento do funcionamento mental e inconsciente dos sujeitos envolvidos.
A resistência dos pais e pedagogos quanto ao assunto apenas compromete o desenvolvimento saudável do indivíduo, que está na escola para aprender e, muitas vezes, é mais avançado e “atirado”, devido às tecnologias, do que os próprios professores. A nova geração tem um verdadeiro bombardeio de informações com a internet que jamais aconteceu na história.
Diante de tal situação, ou seja, tentar educar as crianças com certos mitos que reprimem ainda mais o interesse sobre a sexualidade infantil só causa dano e mais desejo pelo proibido.
Mas, é válido ressaltar que no momento em que os educadores ou os pais passam a lidar com esse tipo de situação diante de uma criança, fica muito difícil saber concretizar tal aprendizado, uma vez que, por não lembrarem de sua época de infância, logo, fica praticamente impossível visualizar as verdadeiras duvidas que a criança realmente tem.
Nesse contexto, qualquer explicação que o educador proporcionar a uma criança, não terá validade, já que, muito do que fora explicado, nada iria servir para a mentalidade infantil ou juvenil se o seu inconsciente não vai se satisfazer com tais explicações.
Justamente por isso que o próprio inconsciente do aluno irá gerar as suas próprias explicações sobre a sexualidade.
Nessa perspectiva, os professores devem abordar o seu conhecimento, sem resumir-se a métodos pedagógicos, pois tais métodos trilham objetivos, resultados e metodologias, uniformizando assim o aprendizado e não respeitam as estruturas inconscientes do subjetivismo.
O professor deve lidar com uma sala de aula, negando todo o seu papel repressor imposto culturalmente e aceitar que cada aluno irá digerir o conhecimento proporcionado por ele de uma maneira singular, ou seja, o aluno só irá aprender o que lhe fazer realmente sentido, tendo em vista as suas necessidades psicológicas.
Enfim, o profissional da educação deve ser menos repressor e aceitar que, ao atuar em uma sala de aula, ele vai estar diante de diferentes subjetividades, logo os seus resultados esperados não serão de maneira alguma uniformizados.

Ocupar-se de atividades intelectuais
Walace Mello, professor de filosofia e história, diz que o papel de um professor conhecedor da psicanálise e da filosofia é de orientar os seus alunos a se ocuparem em atividades intelectuais, estimulando assim, o próprio processo de sublimação.
Concordo, porém o acompanhamento de um profissional da psicanálise no ambiente escolar pode ajudar, e muito, na construção do indivíduo, que repele a “opressão” pedagógica e por isso impõe-se como pode. Em muitos casos com a violência, uma vez que ainda não está pronto para argumentar e não conhece outra forma de liberar seus desejos.
A psicanálise é uma teoria a ser aplicadas sobre o real. Essa grande teoria que atravessou o século 20 e não perdeu a atualidade no século 21 é, antes de tudo, método de investigação sustentado por alguns pressupostos teóricos. Não pode ser tomada como dogmas. Ajuda-nos a observar, entender e operar sobre o mundo à nossa volta.
Por isso, nem só para os alunos a psicanálise seria útil na escola. A teoria psicanalítica também pode ser aproveitada pelos educadores que passam por situações estressantes na maior parte do ano letivo. Eles também teriam no profissional um apoio psicológico para tratar de suas neuroses causadas no ambiente escolar.  A psicanálise pode ajudar a descobrir um jeito de relacionamento entre professor x aluno, favorecendo a aprendizagem e o desejo de aprender.

Transformações na prática pedagógica
A prática pedagógica pode ser transformada com as contribuições da psicanálise à medida que o professor, pelo menos, possa abrir um espaço de escuta do desejo do aluno e considere que sua atividade intelectual depende da sublimação e da identificação que aquele faz com o professor que tem papel fundamental em despertar o desejo.
            Portanto a psicanálise pode contribuir para possíveis transformações pedagógicas sim, pois através dela podemos conhecer a individualidade psíquica de cada aluno; reconhecer o que passa em sua mente através de pequenas observações de gestos que deixam transparecer; dar-lhe amor e ser autoridade ao mesmo tempo, ser conhecedor de convicções aceitas e compartilhadas culturalmente para daí sim, passar a ser mediador entre o aluno e o conhecimento.