“Quando o sujeito depara com a fantasia que
sustenta sua neurose, é como se dissesse: ‘Nossa, era só isso? Eu estava sofrendo
há tanto tempo só por causa disso?’, Maria Rita Kehl.
por Roney Moraes
Inserir a
Psicanálise na educação é uma questão que já deveria ser debatida pelos
gestores há muito tempo. Num momento conturbado, em que os valores são
invertidos (alunos com total descontrole sobre as ordens dos educadores) e
professores cada vez mais com medo de algumas ameaças juvenis e paternas, nesse
contexto a teoria psicanalítica pode ajudar a melhorar o ambiente educacional.
Sabemos
que a liberdade sexual está cada vez mais presente nos jovens. Freud já
defendia que as crianças devem receber uma educação sexual assim que demonstrar
um interesse sobre tal assunto. Mas, o terapeuta disse que a psicanálise não
pode fazer o papel da educação e não pode ser considerada salvação para todos
os problemas educacionais, mas pode auxiliar em um maior conhecimento do
funcionamento mental e inconsciente dos sujeitos envolvidos.
A
resistência dos pais e pedagogos quanto ao assunto apenas compromete o
desenvolvimento saudável do indivíduo, que está na escola para aprender e,
muitas vezes, é mais avançado e “atirado”, devido às tecnologias, do que os
próprios professores. A nova geração tem um verdadeiro bombardeio de
informações com a internet que jamais aconteceu na história.
Diante de
tal situação, ou seja, tentar educar as crianças com certos mitos que reprimem
ainda mais o interesse sobre a sexualidade infantil só causa dano e mais desejo
pelo proibido.
Mas, é
válido ressaltar que no momento em que os educadores ou os pais passam a lidar
com esse tipo de situação diante de uma criança, fica muito difícil saber concretizar
tal aprendizado, uma vez que, por não lembrarem de sua época de infância, logo,
fica praticamente impossível visualizar as verdadeiras duvidas que a criança
realmente tem.
Nesse
contexto, qualquer explicação que o educador proporcionar a uma criança, não
terá validade, já que, muito do que fora explicado, nada iria servir para a
mentalidade infantil ou juvenil se o seu inconsciente não vai se satisfazer com
tais explicações.
Justamente
por isso que o próprio inconsciente do aluno irá gerar as suas próprias
explicações sobre a sexualidade.
Nessa
perspectiva, os professores devem abordar o seu conhecimento, sem resumir-se a
métodos pedagógicos, pois tais métodos trilham objetivos, resultados e
metodologias, uniformizando assim o aprendizado e não respeitam as estruturas
inconscientes do subjetivismo.
O
professor deve lidar com uma sala de aula, negando todo o seu papel repressor
imposto culturalmente e aceitar que cada aluno irá digerir o conhecimento
proporcionado por ele de uma maneira singular, ou seja, o aluno só irá aprender
o que lhe fazer realmente sentido, tendo em vista as suas necessidades
psicológicas.
Enfim, o
profissional da educação deve ser menos repressor e aceitar que, ao atuar em
uma sala de aula, ele vai estar diante de diferentes subjetividades, logo os
seus resultados esperados não serão de maneira alguma uniformizados.
Ocupar-se
de atividades intelectuais
Walace
Mello, professor de filosofia e história, diz que o papel de um professor
conhecedor da psicanálise e da filosofia é de orientar os seus alunos a se
ocuparem em atividades intelectuais, estimulando assim, o próprio processo de
sublimação.
Concordo,
porém o acompanhamento de um profissional da psicanálise no ambiente escolar
pode ajudar, e muito, na construção do indivíduo, que repele a “opressão”
pedagógica e por isso impõe-se como pode. Em muitos casos com a violência, uma
vez que ainda não está pronto para argumentar e não conhece outra forma de
liberar seus desejos.
A
psicanálise é uma teoria a ser aplicadas sobre o real. Essa grande teoria que
atravessou o século 20 e não perdeu a atualidade no século 21 é, antes de tudo,
método de investigação sustentado por alguns pressupostos teóricos. Não pode
ser tomada como dogmas. Ajuda-nos a observar, entender e operar sobre o mundo à
nossa volta.
Por isso,
nem só para os alunos a psicanálise seria útil na escola. A teoria
psicanalítica também pode ser aproveitada pelos educadores que passam por
situações estressantes na maior parte do ano letivo. Eles também teriam no
profissional um apoio psicológico para tratar de suas neuroses causadas no
ambiente escolar. A psicanálise pode ajudar a descobrir um jeito de
relacionamento entre professor x aluno, favorecendo a aprendizagem e o desejo
de aprender.
Transformações
na prática pedagógica
A prática
pedagógica pode ser transformada com as contribuições da psicanálise à medida
que o professor, pelo menos, possa abrir um espaço de escuta do desejo do aluno
e considere que sua atividade intelectual depende da sublimação e da
identificação que aquele faz com o professor que tem papel fundamental em
despertar o desejo.
Portanto a psicanálise pode contribuir para
possíveis transformações pedagógicas sim, pois através dela podemos conhecer a
individualidade psíquica de cada aluno; reconhecer o que passa em sua mente
através de pequenas observações de gestos que deixam transparecer; dar-lhe amor
e ser autoridade ao mesmo tempo, ser conhecedor de convicções aceitas e
compartilhadas culturalmente para daí sim, passar a ser mediador entre o aluno
e o conhecimento.