.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Sem mais palavras...



 “As pessoas felizes lembram o passado com gratidão, alegram-se com o presente e encaram o futuro sem medo”, Epicuro.

por Roney Moraes*

            Há 73 anos, em 29 de junho de 1939, Newton Braga publicou na revista Cachoeiro de Itapemirim o poema que reuniu o espírito cachoeirense sobre o amor e bairrismo à cidade. Inicio meu texto com a ousadia de citar um trecho de ‘Haverá outras assim...’,“(...)Bonita? Não. Talvez mesmo feia; pesa-me confessa-lo. Há morro, para todo o lado que se olhe: assim o horizonte é curto (embora certos crepúsculos bem merecem um olhar embevecido). Entre os morros, fazendo curvas, vem um rio que tem personalidade. Tem. Por quê? Não saberia explicar. É dessas coisas que a gente sente e não acha jeito de explicar bem”.
            A Festa de Cachoeiro causa isso nas pessoas. Mesmo com as não nascidas na cidade. Algumas são agraciadas com o título de cidadã cachoeirense. Acredito que a maioria dos “imigrantes” gostaria de uma honraria desse calibre, afinal, não é qualquer um que é de Cachoeiro.
            Ser ou estar nesta cidade é para quem tem personalidade como à do Rio Itapemirim. Salvem aqueles que a escolheram para viver. Isso é muito natural. Afinal, não há explicação para tanta gente bonita, amiga e trabalhadora como a nossa. Viver Cachoeiro não significa morar na cidade e para isso existe o exemplo do Cachoeirense Ausente, que vive, respira e divulga as peculiaridades do município em outros ares. Vide Sergio Garschagen, o ausente de 2012, mais presente que conheço.
            Como diz um amigo (Joaquim Neiva) “sem mais palavras” é o título que escolhi para este texto por Cachoeiro emudecer-me de tanta alegria. Tive um ano difícil... 2011 não foi uma maravilha. Alguns chamariam de impossível passar por meses de tratamento. Poucos não acreditaram, mas, no meio do caminho encontrei pessoas que dão a vida pelo que fazem e, por isso, não perdi a oportunidade de me tornar amigo delas (todas da Casa Reviver em Mimoso do Sul).  
            Os muitos amigos que tenho aqui na “Atenas Capixaba” me abraçaram quando voltei com a satisfação de quem vê um irmão retornando de longe. Então me senti um pouco ausente, e, agora, presente tenho uma dívida pessoal e moral com meus amigos e com a sociedade, e sempre com a minha cidade.
            Bastou voltar para o vale dos morros que encontrei meu horizonte. Confesso, não é fácil, mas, de pé, ergo-me com a personalidade do Rio Itapemirim e sigo em frente a cada dia... “Conhecendo novas manhas e as manhãs...” .
            Por tudo isso. Por Deus, pela minha família, pela homenagem recebida na Sessão Solene da Câmara Municipal de Cachoeiro de Itapemirim. Pela Academia Cachoeirense de Letras (ACL) e por todos os amigos que esperaram minha volta e pelos novos que fiz durante a caminha da sobriedade, desta vez, não vou me conter: muito obrigado! E... Sem mais palavras. Por enquanto. 

Curtíssimas

+ Recepção na casa de Marilene Depes ao Cachoeirese Ausente N° 1, Sergio Garschagen, foi o máximo!
+ “Deve-se temer mais o amor de uma mulher, do que o ódio de um homem”, Sócrates.
+ “A Psicanálise é a medicina da alma do nosso século”, Fernanda Tomaz.
+ Encontro com amigos na Sessão Solene foi demais. Embalado ao som da banda D14.
+ “Quem sabe, muitas vezes não diz. E quem diz muitas vezes não sabe”, Máxima do jornalismo investigativo.
+ “O homem não é nada além daquilo que a educação faz dele”, Immanuel Kant.

* Psicanalista, jornalista e professor.

sábado, 23 de junho de 2012

Um recuo estratégico



“O conceito de estratégia, em grego strateegia, em latim strategi, em francês stratégie... Os senhores estão anotando?", Capitão Nascimento.

por Roney Moraes*

            Um milhão de pessoas já usou o crack no país. E a notícia de que traficantes resolveram proibir a venda da droga em algumas favelas do Rio de Janeiro não deveria deixar as autoridades de cabelo em pé. Na realidade, o problema nunca é visto de cima para baixo e sim nas ruas. No submundo. Pergunte aos policiais que fazem ronda nas “cracolândias” espalhadas por todo o canto que eles vão dizer o motivo. Óbvio. Ninguém quer ser perturbado 24 horas por dia. Nem o vendedor de entorpecentes.
            Parar com a venda de crack, segundo o colunista Ancelmo Góis, é o mesmo que suspender o comércio de remédios tarja preta. Tem razão. O viciado em medicamento para dormir ficaria louco de insônia. É mais ou menos por aí.
            O criminoso, nos últimos tempos estava perdendo lucro para uma droga relativamente barata. É bem mais lucrativo e discreto o usuário comprar R$ 50,00 (cinquenta reais) em cocaína e não voltar mais à noite na Boca de Fumo do que vender cinco pedras de crack para um dependente que, com certeza, não irá ficar só naquela quantidade.
            O crime volta a se organizar e tirar de circulação aqueles que chamavam a atenção da polícia para o seu ponto de venda. Onde há crack também há sempre pessoas circulando, roubando, pedindo em volta do traficante. Na cabeça do meliante, mais vale perder uns trocados do que ver a “casa cair” e parar na cadeia por causa de um bando de dependentes desesperados.
            A atuação de repressão e as campanhas de combate ao crack podem ter ajudado na decisão que cedo ou tarde acabaria acontecendo. Lembrem-se que essa nova (velha) droga (o crack é uma nova forma de usar a cocaína) demorou anos para entrar no circuito Rio x Espírito Santo. Muito antes o estado de São Paulo estava praticamente dominado pela ‘pedra’, como é popularmente chamada.
            De acordo com o blog do jornalista Luis Nassif, que reuniu alguns especialistas para abordarem o assunto, Luiz Eduardo Soares, que acabou de lançar "Tudo ou Nada" (Editora Nova Fronteira) - onde conta a história de um traficante internacional de drogas - afirmou que o anúncio da proibição de venda do crack pelos próprios criminosos é reflexo das transformações que vêm ocorrendo no tráfico do Rio em consequência também do projeto de pacificação de favelas.
            Soares lembra que "os protagonistas da economia do tráfico são capazes de avaliações e certamente chegaram à conclusão de que o negócio com o crack tem alto risco e baixa lucratividade".
            Os traficantes sabem que o crack liquida em pouco o tempo o consumidor. Persistir nesse negócio é como matar a galinha dos ovos de ouro. Outro especialista diz que o quadro de repressão ao crack com certeza é um dos fatores. Assim é uma decisão racional deixar esse produto. Isso evitar a chamar a atenção para o negócio das drogas mais lucrativas.
            Se para alguns é o tráfico que dita as ordens, para outros podem considerar uma pequena vitória da sociedade que, com as “armas” que têm, fez facção recuar. Isso em minha opinião é positivo e operante.
            Resta saber se outros locais de venda vão aderir ao recuo dos traficantes. Hoje, em Cachoeiro de Itapemirim-ES e adjacências, não há droga mais comercializada do que o crack e o custo, dependendo da cidade, chega a variar por pedra do mesmo tamanho entre R$ 5,00 à R$ 20,00.

*Psicanalista, jornalista e teólogo

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Entre a leitura e a literatura



“Deito-me um pouco para ler, mas deixo o livro, fico a olhar pela janela (...)”, Rubem Braga – Os Trovões de Antigamente.

 por Roney Moraes*

            Existe outro sujeito entre esses dois fenômenos, o da leitura e a literatura. O escritor. A produção, literária ou não, está entre o leitor e a escrita. Mas, afinal, qual o papel de cada um nessa história toda? Tudo! É claro que todos têm sua finalidade distinta e fazem parte de uma “ponte” para que a arte seja o objeto final da união das três situações.
            O leitor não teria necessariamente uma ligação essencial com o fenômeno da linguagem, ao contrário do agente mediador entre a literatura, digo o escritor. Mesmo assim é reconhecidamente importante para o processo de criação literária.
Para um escritor é imprescindível ter o hábito da leitura de obras que o inspirem para sua produção, seja ela crônica, conto, poesia, romance, novela... A literatura deve ser algo, para o produtor de texto, como respirar. Não dá para viver sem ler e vivenciar a boa literatura. A ruim também, pois com ela aprendemos como não devemos agir. Escrever.
            São inúmeras as formas do homem expressar-se, mas é pela arte que ele consegue de forma mais sublime. A própria arte pode se apresentar de várias maneiras: pintura, escultura, música, teatro, arquitetura ou, então, a literatura. Cabe à literatura ser a arte da palavra.
            Gosto da definição do poeta amazonense R. Samuel que diz: “a arte não pode se identificar com utensílio. A arte é gratuita, isto é, sua finalidade é quase a própria arte. A arte não deve ter finalidade porque é finalidade em si mesma. É uma atividade lúdica, isto é, não tem finalidade fora de si mesma”. Então, o artista, portanto, é aquele que se preocupa com o objeto da arte; aquele que produz emoção; que faz do comum algo diferente; também transforma a realidade refletindo seu tempo e condição. Neste ambiente, para mim familiar, entram também, como o próprio poeta, os escritores.
            Pois bem, o ato de escrever, principalmente para um cronista, é, em primeiro lugar, a forma de reunir os conhecimentos prévios, conhecer sobre o assunto e (imprescindível) estar atento às coisas do mundo. O seu meio ambiente... E colocar no papel, sem dúvida, como Rubem Braga na crônica “Os Trovões de Antigamente” relata que deita, abre um livro, lê, deixa de ler e vai para a janela observar o cotidiano, as galinhas, as trovoadas, a tempestade, a enchente...
            Deu para notar que escrevo basicamente sobre a crônica, pois é o gênero que me fascinou. Ele vem despertando, nos iniciados literalmente, desde o início, essa curiosidade. A crônica é literária ou não? Bem, acredito que as duas coisas.
Sendo, em minha opinião, e digo isso desde outros carnavais (textos), a forma mais importante do Brasil, a crônica tem os dois lados, o literário com recriação de linguagem mais conotativa, que possibilita várias interpretações, como a jornalística (não literária) que se associa mais a um comentário. O bom cronista passeia pelos dois gêneros.
            Na realidade, quem utiliza deste estilo funciona como um radar e rastreia no universo notícias e assuntos que atinjam a sensibilidade do leitor. Ele vai adaptar essa história sob formato de conto. Pequeno, porque vive esse espaço de tempo. Feito no modo confessional, pois vai ter que mostrar a sua cara de forma transparente para aquele que o lê interaja com ele. Quando o leitor ler a crônica ele meio que conversa com o cronista.
            Uma comparação seria com um filme de curta metragem, porque ele tem uns sete minutos para transmitir a sua mensagem. Se isso não acontece o público fica decepcionado. É o mesmo caso do cronista.
            A mídia veicula notícias que nem sempre se detém numa análise que os assuntos merecem. O cronista pinça esses assuntos e vai dissecar de uma de uma forma sucinta de modo a atingir o leitor.
            Escrever também é para mim uma atividade prazerosa. Quando faço uma graça ou utilizo textos cômicos então... Uma comédia... É como se a subjetividade driblasse a objetividade. Um exemplo matemático: se 4 - 4 = 0 e 5 – 5 = 0 então 4 – 4 = 5 - 5 onde 4x(1-1) = 5x (1-1). Corta as igualdades e dá-se 4 = 5 então 4 = 2+2 que é igual 5!  Me divirto muito durante a escrita. E não pensem que a piada é um gênero menor. Wood Allen, que é uma autoridade no assunto, já disse que acha mais difícil fazer comédia do que um drama.
            Numa entrevista que fiz ao cronista, poeta e professor Adriano Spínola, na primeira Bienal Rubem Braga, ele me confidenciou que “(...) nenhum povo consegue ter escritores com esse grau de liberdade, beirando até a irresponsabilidade. Muitas vezes o cronista deixa para escrever sua crônica na última hora, como já fiz também, e isso não aconteceria, jamais, em países da Europa ou Estados Unidos. Então nenhum outro povo do mundo, pelo menos nos lugares onde passei, é capaz de dar um drible desconcertante no futebol e também na crônica”. E digo mais, pedalada até na matemática se for necessário.
            Enfim não há um bom escritor que não seja um leitor voraz com fome de informação, formação e vivência. Um escritor precisa ler bons textos para escrever bons textos. Um bom escritor é sempre um bom leitor, e a experiência é adquirida com esses hábitos: o de ler, escrever e viver.

Curtíssimas
+ Um abraço aos amigos que comparecerem à palestra na Bienal.
+ Registro neste espaço a felicidade de ser eleito, junto com a escritora e advogada Valquiria Volpato, membro da Academia Cachoerense de Letras.
+ Breve Circuito Filosófico nas faculdades do sul do Espírito Santo.
+ Até breve!


*Psicanalista, jornalista e teólogo.